Assembleia
Nacional Popular
Deputados
do PCD
UMA PROPOSTA PATRIÓTICA
PARA A SAÍDA DA CRISE E PARA O RESTABELECIMENTO DA CONFIANÇA
Do
ponto de vista do PCD, a presente crise política e institucional, é motivada
pelas mesmas causas que originaram no passado as crises político-militares recorrentes.
As
crises políticas que assolam o nosso país decorrem, em primeiro lugar, (1) da
incapacidade das sucessivas lideranças políticas em promoverem políticas
públicas de crescimento e desenvolvimento económico sustentável e equitativo,
em segundo lugar estas crises resultam (2) do esgotamento do sistema político,
constitucional e legal sobre o qual repousam as instituições da nossa república
e em terceiro lugar as nossas crises entrecorrem (3) da amalgama de múltiplos
ódios, ressentimentos e desconfianças, alguns herdados da estrutura social
colonial (“civilizados/praça” versus os “indígenas/camponês” e das contendas
inter-tribais/Kansala) e outros herdados da estrutura social
colectivista-marxista implantada após a independência que fraturou a
sociedade (em “combatentes libertadores”
versus os “libertados”, isto é, “anós qui bai luta” versus “abós qui cumê cu
tuga”).
Por outro lado, estas vagas de crises,
premiaram a violência armada ou verbal, estimularam a intolerância e a
impunidade, fustigaram as nossas precárias relações de cidadania com velhos
ódios e desconfianças sociais e tribais, fazendo brotar esses ódios e
desconfianças para a superfície das palavras e dos actos, sempre que os
litígios pessoais ou associativos, privados ou públicos, partidários ou
institucionais ganhem azedume, estreitando desse modo os frágeis espaços do
diálogo sincero e fraterno.
Ao
escutarmos diariamente as rádios e a televisão, constatamos que a ausência do
dialogo e a intolerância já não se circunscrevem apenas nas instituições do
Estado e na classe política, hoje mais do que nunca os campos extremam-se na
sociedade guineense, sem que nenhum dos campos procurem apresentar soluções e
ou caminhos de saída para a crise, isto é, encontrar consensos nas questões
fundamentais do país, nas questões que afligem e fazem sofrer diariamente o
cidadão qualquer que seja a sua pertença social, étnica e ou religiosa.
O PCD
apela aos guineenses para pararmos de alimentar diariamente os ódios e os
ressentimentos sociais herdados do passado.
Basta
de comunicados partidários inquisitórios, discursos parlamentares incendiários,
debates populares ardentes nas “antenas abertas das rádios e da televisão”.
O certo
é que a crise política e institucional está instalada e a pobreza que é a nossa
principal inimiga aprofunda-se, sem que nenhuma das partes desta crise dê
indícios de querer encontrar saídas consensuais brevemente.
Cada
uma das partes (o Presidente da República, o PAIGC, o PRS, o grupo dos 15
deputados) desta crise, tem a sua própria narrativa dos factos e motivos
conducentes a actual situação. Cada uma das partes, considera-se legitima e
detentora exclusiva da razão!
Para o
PCD, esta crise é da responsabilidade de toda a classe política e de todos os
titulares dos órgãos de soberania sem exceção (Legislativo, Executivo e
Judicial), pese embora maior responsabilidade sobre os órgãos eleitos
diretamente pelo povo (Parlamento e Presidente da República).
Estamos
incessantemente em crise, porque falhamos na construção do Estado, porque
falhamos na construção do nosso sistema democrático, porque falhamos na
construção de uma economia nacional e estamos em vias de falhar na construção
de uma Nação moderna, onde o argumento central das eloquências dos lideres
políticos deve ser a promoção dos direitos de cidadania.
Esta
crise põe a nu o falhanço do nosso sistema político e institucional e mostra a
falta de aptidões intelectuais e morais das sucessivas lideranças políticas na
condução do nosso destino colectivo, com vista a criar mais riqueza, mais saúde
e mais educação.
Para o
PCD, a política não é fazer das nossas diferenças de estatuto social, cultura,
cor da pele, etnia, crença religiosa, os argumentos para a conquista e ou
manutenção do poder. Para nós a política, não é fazer dessas diferenças os
argumentos privilegiados na propaganda do ódio e da desconfiança entre os
guineenses, ou ainda fazer dessas diferenças os pilares de alianças políticas e
partidárias contra os mais elementares princípios e regras da democracia. Diz o
ditado “quem semeia ventos colhe tempestades”.
Para o
PCD, a política é promover o regular funcionamento das instituições públicas
administrativas e jurisdicionais, é criar postos de trabalho e riqueza para os
guineenses, é cuidar da saúde da nossa população, é assegurar o ensino e a
formação das gerações mais novas, é promover cidadãos com base no seu respetivo
mérito pessoal quer na liderança dos partidos políticos, quer na chefia das
instituições públicas, é finalmente adequar os recursos que dispomos em prol de
uma vida condigna para os Guineenses.
É tempo
de parar a espiral descendente da pobreza. É tempo de colocar os interesses
comuns acima dos interesses pessoais. É tempo de dar prioridade a construção do
património nacional e não a construção do património pessoal. É tempo de
colocar a coesão nacional acima da solidariedade de grupo social, étnico ou
religioso. É tempo de promover o diálogo entre os guineenses e não de estar de
costas voltadas.
A
pobreza e a injustiça são más conselheiras. Quando juntas são presas fáceis da
violência.
Se não
agirmos bem e solidariamente o risco de aprofundamento desta crise é eminente
com consequências que poderão vir a ser dramáticas para a nossa Nação.
Continuaremos
todos a perder enquanto todas as partes desta crise persistirem na via da
acusação reciproca.!
As
providencias constitucionais exercidas pelo Presidente da República
esgotaram-se, melhor dizendo, ao Presidente da República resta-lhe uma e
derradeira solução final, a dissolução do Parlamento, mas que não lhe convém
exercer no imediato por razões políticas óbvias.
O PRS e
o Grupo dos 15, pretendem que o Presidente da República mande convocar uma
sessão plenária extraordinária no decurso da qual irão “forçar” o debate e a
aprovação do Programa Terra Ranka, já aprovado pela ANP, e agora de novo
adotado e proposto pelo actual governo do PRS/ PND e liderado pelo Grupo dos
15.
Para o
PCD, esta iniciativa para além de ser polémica juridicamente a luz das
disposições previstas no Regimento da ANP, é politicamente e potencialmente
conflituosa, porquanto, sem uma prévia interdependência e harmonização de
posicionamento político da Mesa, da Conferencia de lideres e da Comissão
Permanente, esta iniciativa conduzirá a situações muito desajeitadas durante o
funcionamento da sessão plenária extraordinária, que irá saldar-se num
insucesso, pois no limite não vemos como é que essa sessão plenária irá
prosseguir os trabalhos, após o discurso do Presidente da República, sem uma
Mesa constituída nos termos da lei?
O PRS
no passado recente foi poder e hoje apesar de encapotado, é indubitavelmente o
poder real em exercício.
No
passado o PRS, bloqueou a revisão constitucional e foi sempre cúmplice do PAIGC
na aprovação dos artigos “armadilhados” do Regimento da ANP, dos Estatutos dos
Deputados e demais leis.
O PRS,
no início desta legislatura, recusou apoiar a proposta do PCD para que a Mesa e
a Comissão Permanente da ANP fossem constituídas de acordo com o espírito da
Constituição da República, isto é, aqueles órgãos devem refletir a pluralidade
das formações politicas com assento parlamentar tal como acontece em todos os
parlamentos da sub-região.
No
inicio desta legislatura, o PRS quis ficar bem representado na Mesa e na
Comissão Permanente da ANP, mas hoje porque o espaço de manobra naqueles órgãos
da ANP está muito reduzido com a ausência dos deputados do PCD e porque
necessita a todo custo conservar e legitimar o poder que ajudou a usurpar, o
PRS, faz-se valer de ardilosos argumentos quanto a comunhão de ideias dos
deputados do PCD com as estratégias do PRS. Eis uma boa lição do ditado
popular, “koba de nhanfa cobal largo”.
O PAIGC
continua fechado na sua redoma inquebrantável, praguejando as assombrações que
procriou e insistindo ora com argumentos jurídicos, ora com argumentos
políticos que o pleno exercício do poder político obtido nas urnas não lhe pode
ser usurpado, através de arranjos e alianças não sufragados nas urnas.
Na
verdade, o PAIGC está sendo vítima não só das suas assombrações, mas também dos
vícios do sistema constitucional, político e legal que resolutamente criou e
defendeu, conjugadamente com os insucessos das políticas públicas que promoveu
enquanto poder. Eis mais um exemplo da
lição do ditado popular, “koba de nhanfa cobal largo”.
O recurso aos tribunais provou que os seus
resultados não têm eficácia política para a saída da crise se o
Presidente da República, os partidos políticos e os seus deputados não quiserem
encontrar saídas políticas. Não é remetendo para os tribunais (já de si
frágeis) a resolução dos problemas políticos para os quais fomos eleitos, que
eles se vão resolver. Não podemos continuar a fugir das nossas
responsabilidades. As crises politicas exigem soluções politicas e sobretudo
vontade de os ultrapassar.
O PCD defende que para saída desta crise ninguém
pode ganhar tudo e ninguém pode perder tudo.
O PCD está convicto que só com o dialogo sincero
e fraterno saberemos encontrar o caminho da coesão nacional e do
desenvolvimento e insistimos que, sem diálogo, continuaremos a hipotecar o
nosso futuro enquanto nação e ficaremos cada vez mais frágeis e expostos as
inúmeras ameaças externas.
O PCD advoga que tendo a presente crise iniciado
um ano após as últimas eleições gerais, não será com a realização de eleições
antecipadas (legislativas ou gerais) que as causas das crises serão
definitivamente eliminadas.
Para a saída da crise o PCD propõe que as
lideranças das bancadas do PAIGC, do PRS e representantes dos demais partidos,
reúnam e estabeleçam os seguintes compromissos:
1)
Compromisso de que o Programa de
governação Terra Ranka, submetido pelo governo do PRS e Grupo dos 15 não será
debatido na próxima plenária a ser convocada em termos regimentais.
2)
Compromisso de acatar e implementar as
decisões judiciais transitadas em julgado, relativas ao estatuto dos deputados
dissidentes do PAIGC.
3)
Compromisso de estabelecer
consensualmente as traves mestras de um programa de governação (ou a eventual
reformulação do Terra Ranka) para o resto da legislatura, centrado
principalmente nos nossos recursos próprios, tendo em conta que a
comunidade internacional já deu sinais que dificilmente irá desbloquear os
recursos prometidos, mesmo que parcialmente, da mesa redonda de Bruxelas. Este
compromisso estende-se ao debate aturado de como criar e alocar os recursos nos
anos restantes da legislatura.
4)
Compromisso de persuadir as lideranças
dos respectivos partidos no sentido de encontrar, em conjunto com o Presidente
da República, soluções sobre a recomposição do elenco governativo consentâneo
com as traves mestras do programa para o resto da legislatura, tendo presente
os interesses de todas as partes em conflito.
5)
Compromisso de fazer aprovar o novo
programa de governação e os orçamentos para o resto da legislatura.
6)
Compromisso de preparar afincadamente a
revisão constitucional, a revisão dos diplomas regimentais da ANP, a lei quadro
dos partidos políticos, a lei eleitoral no que tange a dimensão dos círculos
eleitorais e demais disfuncionalidades do presente diploma, as leis atinentes
as autarquias, as leis da comunicação social, em resumo proceder a revisão do
quadro regulador do nosso sistema político e institucional, no sentido de
expurgar os diversos “vícios e armadilhas” incorporados nos principais diplomas
que balizam a nossa democracia e o nosso desenvolvimento social.
7)
Compromisso de desenvolver bons ofícios
junto do Presidente da República, através do Presidente da ANP, no sentido de
encorajar esses esforços dos parlamentares na promoção do dialogo e procura de
consensos para a saída da crise.
8)
Compromisso de solicitar a Mesa e a
Comissão Permanente da ANP a convocação de uma reunião plenária para aprovar
esses compromissos e prosseguir com a implementação das tarefas aqui
formuladas.
Se não
formos capazes de estabelecer o diálogo entre os Deputados e de construir
consensos em trono dos assuntos que mais preocupam os nossos concidadãos e de
os plasmar num programa de governo para os restantes dois anos, bem como, se
não formos capazes de chegar acordo sobre as principais revisões legislativas a
proceder tendentes a aperfeiçoar o nosso sistema político, então a alternativa
que restará é a dissolução da ANP.
É,
pois, imbuídos desta vontade e preocupação de melhor servir os interesses do
povo que nos elegeu e convictos que a saída desta crise só é possível através
do dialogo sincero e fraterno, que convidamos a todos os colegas Deputados a
juntarem os seus esforços a esta iniciativa, persuadindo as lideranças dos
respetivos partidos, para que de uma forma patriótica analisemos e assumamos as
nossas responsabilidades históricas e decidamos agir em prol de um melhor
futuro comum, pondo fim esta crise infecunda.
Bissau, 18 de Agosto de 2016.
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